Mulheres acusam dono do Albano Beach e agentes da PM de racismo após confusão na Barra

Um grupo de advogados procurou a reportagem do BNews para denunciar um suposto caso de racismo ocorrido após uma confusão no bar Albano Beach, localizado na Barra, na noite deste sábado (29). Duas mulheres negras, uma delas advogada, teriam sido expulsas pelo dono do estabelecimento sem motivação. Como se recusaram a deixar o local, o homem chamou a Polícia Militar, que conduziu a dupla em uma viatura até a 11ª delegacia da Barra. O empresário, identificado como Albano Carlos Lobo Menezes, no entanto, pôde se locomover através de um automóvel particular. A redação recebeu um vídeo que registra todo o ocorrido.
 
 
Quem dá detalhes do caso é a advogada Fernanda Cardoso, membro da Comissão de Prerrogativas da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Bahia (OAB-BA), que representa as vítimas. As duas foram identificadas como Daza Ifa Ashanti Moreira (jornalista) e Gabriela Batista Pires Ramos (advogada).
 
"Ela (Gabriela), juntamente com uma amiga (Daza) estavam em um bar na Barra. Daza pediu para carregar o celular dela no estabelecimento. E aí colocou o celular para carregar, mas depois a funcionária mandou que ela retirasse o celular porque poderia dar uma sobrecarga na parte elétrica do bar. Ela retirou. E a funcionária também pediu para que ela se retirasse do balcão. Nesse momento, o dono do bar pediu para que ela se retirasse do estabelecimento. E aí, a advogada, que se chama Gabriela, questionou a necessidade de sair do bar, já que as duas estavam consumindo. Ele disse 'Não, você tem que sair do bar'. Acreditamos que seja uma questão de preconceito racial mesmo", relata ao BNews.
 
"O dono do bar foi e chamou a guarnição na da 11ª delegacia. Nesse momento, a guarnição chegou e pediu para que elas se retirassem do bar. Elas disseram que não se retirariam, porque elas estavam consumindo. Começou uma discussão e Gabriela se apresentou como advogada. O policial olhou para ela e questionou sobre a identificação da OAB. Quando ela mostrou, o agente reteve a identificação e disse que só entregaria na delegacia, mandando que elas entrassem no camburão. E deixou que o dono do bar fosse conduzido no carro particular dele. As duas tiveram que ir na viatura. E aí começaram as agressões físicas e verbais. Um outro colega que também é advogado tentou apaziguar, mas também foi empurrado, como mostra no vídeo", continua Fernanda, que estava de plantão no Comissão de Prerrogativas da OAB no momento do caso.
 
"Na delegacia, elas ficaram junto com traficantes e outras pessoas que tinham sido presas em flagrante por crime contra o patrimônio, rodeadas de policiais. Quando cheguei e me identifiquei como advogada, não quiseram me deixar entrar. Falei que sou da OAB-BA. Disse que tinha uma advogada que sofreu preconceito racial, discriminação. Foi aí que me deixaram entrar. Vi ela extremamente chorosa, rodeada de policiais militares", completa.
 
A conselheira da OAB-BA, Maíra Vida, também esteve presente e acompanhou o ocorrido. Fernanda também aponta quem são os agentes envolvidos no caso. "Os policiais das agressões são os policiais lotados na 11ª CIPM contando com o apoio de outra guarnição da mesma companhia, sob o comando de SD. Jorge. Emilson Silva da Cruz foi o Cabo PM que agrediu os advogados".
 
Albano já é figura conhecida no noticiário policial soteropolitano. Em 2012, ele foi preso em flagrante por porte ilegal de arma. No momento da prisão, o acusado tinha em mãos uma pistola 380, cheques e a quantia de R$2.908. Na época, o BNews noticiou que ele tinha um mandado de prisão em aberto, com acusação de homicídio na cidade de Irará, na Bahia, expedido em setembro de 2011. Ainda na ocasião, contra Albano, também constavam inúmeras acusações sobre participação no tráfico de drogas na região do Porto da Barra.
 
Discriminação
Em um áudio enviado ao BNews, Gabriela desabafa e dá a sua versão sobre o caso. "Quando vi o conflito [entre Daza e a atendente], me aproximei e entrei para entender o que estava acontecendo. Estava na parte externa e fui recebido com a mesma hostilidade pelo dono do bar, no qual estávamos consumindo desde cedo. E aí ele falou que iria chamar a polícia", relata.
 
"A polícia já chegou me abordando diretamente, perguntando quem eu era. Falei 'sou advogada'. Aí ele disse 'Ah, é advogada? Então, você mais do que ninguém entende de direito e sabe que aqui é estabelecimento privado'. Respondi 'Então, você está me dizendo que ele pode atuar de forma discriminatória, escolhendo que atende ou não atende?'. E aí começou o conflito".
 
Ouça o relato de Gabriela na íntegra:
 
 
Outro lado
Procurado, o dono do bar, Albano, não foi encontrado pela reportagem. Por telefone, em duas ligações, uma atendente (em tom ríspido) afirmou que o estabelecimento não irá se posicionar sobre o caso. "É obrigatório alguém  lhe falar alguma coisa? Não. Então, passar bem", berrou a mulher, desligando a ligação abruptamente na segunda tentativa de contato com Albano. 
 
Também procurada, Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) se comprometeu a enviar um posicionamento sobre o caso, mas não o fez até a publicação da reportagem. A materia bOCAONEWS

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